Capítulo
4
Depoimentos
O
delegado Teixeira foi até à casa dos fundos, e voltou com uma senhora gorda,
rosada e de aparência frágil. Dona Inês tinha cinquenta e três anos, seus
cabelos eram grisalhos e mal cuidados. Seus braços e pernas eram tão grossos e
roliços quanto flácidos. Ela usava um par de óculos que me pareceu de alto
grau, e constantemente levava um lenço ao nariz para assoá-lo. Tinha muitas
rugas e manchas pela pele, o que lhe dava aquela aparência de avó, que todos
nós conhecemos tão bem.
Gross a fez sentar numa poltrona perto da imensa janela, logo após ter afastado um pouco a cortina. Ele por sua vez, ficou num canto com fraca iluminação, enquanto o sol de uma da tarde, não permitia que a interrogada escondesse qualquer minúcia de suas reações. Ela piscou muitas vezes, talvez pelo sol em seu rosto, talvez por estar sonolenta.
Gross permaneceu em pé, afinal, com toda a sua altura, era fácil parecer ameaçador e soberano para qualquer um. Estando dona Inês sentada então, ela deveria estar o vendo como um gigante feroz. No entanto, as feições de Gross se tornaram amigáveis tão logo ela se sentou.
– Diga-me dona Inês. – começou ele – Há quanto tempo trabalha para seu patrão?
– Bom, senhor, desde a época em que ele comprou a outra casa. Acho que estava nela há uma semana quando me contratou. E de lá pra cá, – ela pensou por um momento – uns sete meses no todo.
– E sempre morou com eles? Mesmo na casa anterior?
– Sim senhor, foi uma exigência do Dr. Eduardo. A patroa não sabia… quero dizer, não tinha tempo para cuidar da casa, então eu tinha que estar sempre disponível.
– Porque não tinha tempo?
– Ah, porque dona Suzana era uma corretora de imóveis. E com certeza era muito boa nisso. Pois clientes ligavam a todo o momento, e fosse o que ela estivesse fazendo, largava tudo e saía para atendê-los.
– Certo, certo. – Gross olhou para mulher com um olhar que eu não saberia definir. – Há quanto tempo a fechadura da cozinha foi trocada? – nesse momento dona Inês pareceu ter ficado um pouco surpresa, e até mesmo confusa com a mudança repentina de assunto.
– Bom… Acho que há umas duas semanas. – respondeu ela olhando diretamente nos olhos de Gross. – Eu quebrei a chave dentro da anterior, pedi ao patrão para descontar a nova do meu pagamento, mas ele se recusou.
– Tudo bem dona Inês, é só por enquanto. Se eu precisar da senhora, eu mando lhe chamar.
A mulher levantou com uma expressão de surpresa, mas também do que me pareceu, alívio. Assim como eu, talvez ela achasse que Gross tinha muito mais perguntas que poderia lhe ter feito. Mesmo assim, sacudindo seu enorme corpo, caminhou para porta da sala.
– Só mais uma coisa dona Inês: – falou Gross como quem se esquecera de algo.
– Pois não?
– Sabe me dizer quanto tempo faz que seus patrões dormem em quartos separados?
Os olhos da velha se abriram enormemente, e suas rugas na testa formaram uma sanfona. A boca se entreabriu com o espanto, mostrando seus amarelos dentes e uma língua esbranquiçada. Mas antes que ela pudesse responder, uma voz veio em seu socorro.
– Esta pergunta, eu acho que deveria guardar para mim.
Todos olharam ao mesmo tempo para a entrada do corredor. Uma figura imponente estava de pé, nos fitando. Um homem de um metro e setenta e cinco, com seus trinta e cinco anos, cabelos negros e lisos, queixo quadrado, lábios finos, olhos ágeis e afundados no crânio. Tinha braços musculosos e peito amplo. Estava com as pernas separadas e bem esticadas. As grandes mãos estavam enterradas nos bolsos da calça de moletom azul marinho, e veias saltadas se estendiam dos pulsos até onde não se podia mais ver, escondendo-se por baixo das mangas da camiseta. Suas sobrancelhas eram espessas e negras como breu. As maçãs do rosto eram elevadas e desafiadoras. O cabelo era curto e bem cortado, e um nariz largo e proeminente encerrava a apresentação de sua figura altiva.
Acho que o doutor Eduardo de Souza Andrade ficou satisfeito com o efeito que sua entrada na sala causou, pois parecia estar se divertindo com nossos olhares de crianças pegas fazendo traquinagens. Seus olhos verdes passaram pelo rosto de Teixeira e pelo meu com um brilho de divertimento. Porém, ao se confrontarem com os acinzentados olhos de Gross, a expressão ao redor dos olhos do promotor perdeu o divertimento após dois segundos. Acertei ao pensar que ele logo tomaria uma atitude defensiva, visto que o olhar de Gross era de reprovação. Mas a maneira defensiva do promotor era tomada de soberba.
– Não me parece certo que o senhor venha à minha casa, e peça à minha empregada informações que não dizem respeito a ela. – disse ele – Ainda mais se eu mesmo posso lhe responder isto.
Gross parecia estuda-lo com cuidado. Olhava agilmente todos os movimentos minúsculos do promotor enquanto este falava. Eu percebia seus olhos mexerem-se milímetros ao mudarem de direção, mas a cabeça um tanto abaixada, não se movia nem um pouco. Meu amigo olhava o homem aparentemente sem emoção, mas eu percebia uma tensão no ar. As sobrancelhas de Gross formavam uma sombra sobre seus olhos, o que os deixava com um aspecto que exigia respeito e cuidado.
Então Gross sorriu. Abanou a cabeça e sentou-se no sofá.
– Dr. Eduardo, – começou ele – o seu tempo deve ser precioso, portanto, devo lhe dizer que o meu, é indispensável. Sendo assim, aconselho o senhor a pular a parte de mostrar quem é que manda, pois quando um caso me é entregue, quem manda sou eu, ou não trabalho no caso. A casa, sem sombra de dúvida é sua, porém, o senhor tem um problema que precisa de solução rápida e discreta. Pois bem, eu sou o homem para o trabalho. Se o senhor não tem envolvimento com o ocorrido, e se não for extremamente necessário envolver outras pessoas, eu resolverei sua questão por um preço que eu julgar justo para mim. Então vamos ser francos a partir de agora quanto a quem precisa de quem por aqui. Se minha franqueza for rude ou demasiadamente petulante demais para o senhor, poupe o meu e o seu tão precioso tempo, me dizendo isto agora, e ficarei feliz em tomar o próximo voo de volta para São Paulo.
Meus olhos, notei, estavam mais abertos do que eu podia controlar. Eu não conseguia mover um músculo, e apenas meu olhar, encarava desconsertado os rostos naquela sala. O delegado Teixeira estava com os braços cruzados e escorado numa parede olhando para o chão. Gross estava sentado, com os braços apoiados nos joelhos, e olhava através da janela com a cortina entreaberta.
De relance olhei para o promotor. Seu olhar naturalmente estava em Gross. Sua expressão denotava uma confusão de ofensa e respeito. De repente seus olhos semicerram-se, e me pareceu que ele escolhia com cuidado suas próximas palavras.
– Me parece – iniciou – que o senhor é exatamente como me disseram que era. – e nesse momento ele sorriu. – Gosta de ter todos os envolvidos em rédea curta. Bom, o senhor está certo, preciso de sua ajuda. Não estou acostumado a ser confrontado dentro da minha própria casa, mas enfim, façamos a seu modo Sr. Gross.
Eu fiquei fascinada com o poder que Gross exercia sobre as pessoas. Ali estava um promotor de justiça, inteiramente à mercê dos critérios de um detetive particular. Era hilário. Divertiu-me muito como meu chefe fazia todos os personagens serem tratados como iguais; independente de sua posição social.
Gross tirou um papel e uma caneta do bolso do sobretudo. Rascunhou algo e entregou ao promotor.
O homem arregalou os olhos esmeralda e abriu a boca, exageradamente em minha opinião. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Gross levantou a mão direita, e com o indicador em riste na direção do promotor disse gravemente:
– Por favor! Já lhe alertei. Sem cenas, dramas ou atuações de ofensa. Este é meu preço. O senhor pode pagar sem arruinar sua vida. Por outro lado, se preferir pechinchar, tudo que conseguirá é me fazer desistir do caso. Com certeza alguém de sua confiança o assumirá, como o delegado aqui. Porém ele sabe que há coisas aqui, que embora ele possa descobrir, levarão para ele um tempo que talvez seja demais para a solução satisfatória do caso. E se ainda o senhor optar por outro serviço particular, neste caso, a conclusão pode ser catastrófica. Fica a seu inteiro critério.
A altivez do promotor desmanchou-se como um castelo de cartas. Não sem antes um olhar de puro ódio, alvejar as costas de Gross, que agora de pé, contemplava a rua pela fresta da cortina. Com uma pesada expiração, o Dr. Eduardo de Souza Andrade então disse:
– Não acho justo encurralar um homem sem opções, mas já que não há remédio, eu aceito. – a voz estava com nítida fúria contida.
Gross virou-se para ele.
– Metade agora, metade quando eu concluir o caso.
– Metade agora? – vociferou o promotor. – Minha mulher acaba de ser assassinada, como ousa?
– Entendendo como uma vida inteira sendo sorrateiro e cínico, como a profissão lhe exige, não lhe permite mudar em minutos, vou ser compreensivo e lhe dizer mais uma vez. Pare de se ofender falsamente, isso não vai funcionar comigo. O senhor não está se debulhando em lágrimas, não está tremendo de nervoso, nem gaguejando, não está sem saber o que fazer com o resto da sua vida, e nem suando frio. Claro que isto não significa que não está sofrendo, mas com certeza significa que é racional o bastante para não deixar a morte de sua esposa lhe cegar um minuto sequer. Além do mais, o assassinato não bloqueou suas contas, nem deu sumiço no seu talão de cheques, então paremos de perder tempo com mediocridades sociais.
O homem era puro ódio agora. Olhava para Gross incrédulo.
– Jesus Cristo! – exclamou ele virando-se para o corredor e desaparecendo em seguida.
Voltou minutos depois com um cheque na mão. Entregou-o a Gross notavelmente contrariado. Pegando o papel na mão, Gross olhou-o conferindo o valor a meu ver, e guardou-o no bolso.
– Satisfeito? – perguntou o promotor com desdém.
– Satisfação é um sentimento experimentado por quem consegue o que quer sem ter previsto quando exatamente, e se aconteceria. Eu apenas encerrei uma questão. Vamos à próxima. Seu depoimento.
Com esta, Gross apontou a mesma poltrona em que a empregada havia se sentado antes, e muito contrafeito, o promotor se sentou.
– Muito bem Dr. Eduardo, me conte o que fez quando chegou a casa ontem, já ciente do que encontraria.
O promotor olhava pela janela. O cotovelo direito apoiado no braço da poltrona, e a mão no queixo.
– Encontrei aquele policial vigiando a porta. – disse apontando para Alex – Me identifiquei e entrei perguntando a ele onde estava o Dr. Teixeira. Ele respondeu que o delegado havia ido à São Paulo, encontrar-se com alguém. Deduzi então que se tratava do senhor, como ele havia me dito. O policial me acompanhou alertando-me para que não tocasse em nada, então olhei de relance para o banheiro. – nesse momento, sua voz falhou e seus olhos lacrimejaram. Eu senti pena dele, e achei que ele não conseguiria continuar. Gross, por outro lado, rodopiou os olhos nas órbitas, em claro sinal de impaciência e incredulidade. Logo o olhar suplicante do promotor se direcionou para Gross, certamente em busca de consternação, e este mesmo olhar pasmou-se, ao se deparar com a carranca impassível do meu chefe o encarando. Nesse momento, eu vi nitidamente a mão esquerda do Dr. Eduardo apertar o braço da poltrona, o que obviamente era um sinal de que ele não gostou de ver que seus sentimentos não surtiram o menor efeito em meu chefe. E não pude deixar de notar também, que Gross flagrou como eu esse destempero. Já aparentemente refeito, o promotor prosseguiu.
– Quando me deparei com a cena do próximo cômodo, disse ao policial que me recolheria no outro quarto se não houvesse problema, e aguardaria então a volta do delegado. E foi o que fiz até agora.
Gross estava de pé, ao lado de um sofá. As mãos enfiadas nos bolsos da calça e o olhar preso no promotor.
– Acho que agora – disse ele – é o momento em que o senhor pode nos explicar as situações delicadas que envolvem a divulgação do fato.
Um misto de pesar e apreensão tomou conta da expressão do Dr. Eduardo. Ele se levantou e cerrou a cortina com ambas as mãos. Olhou para Gross desgostoso e voltou a sentar-se. Encarou a todos rapidamente e respirou fundo. Nesse momento eu senti aquele clima de quando um segredo perigoso está prestes a ser revelado. Fiquei muito tensa, afinal, tudo isso era novo para mim. Eu estava tendo toda a aventura que eu queria, no entanto, minha pulsação demonstrava que tudo estava acontecendo mais rápido do que eu conseguia absorver.
Gross a fez sentar numa poltrona perto da imensa janela, logo após ter afastado um pouco a cortina. Ele por sua vez, ficou num canto com fraca iluminação, enquanto o sol de uma da tarde, não permitia que a interrogada escondesse qualquer minúcia de suas reações. Ela piscou muitas vezes, talvez pelo sol em seu rosto, talvez por estar sonolenta.
Gross permaneceu em pé, afinal, com toda a sua altura, era fácil parecer ameaçador e soberano para qualquer um. Estando dona Inês sentada então, ela deveria estar o vendo como um gigante feroz. No entanto, as feições de Gross se tornaram amigáveis tão logo ela se sentou.
– Diga-me dona Inês. – começou ele – Há quanto tempo trabalha para seu patrão?
– Bom, senhor, desde a época em que ele comprou a outra casa. Acho que estava nela há uma semana quando me contratou. E de lá pra cá, – ela pensou por um momento – uns sete meses no todo.
– E sempre morou com eles? Mesmo na casa anterior?
– Sim senhor, foi uma exigência do Dr. Eduardo. A patroa não sabia… quero dizer, não tinha tempo para cuidar da casa, então eu tinha que estar sempre disponível.
– Porque não tinha tempo?
– Ah, porque dona Suzana era uma corretora de imóveis. E com certeza era muito boa nisso. Pois clientes ligavam a todo o momento, e fosse o que ela estivesse fazendo, largava tudo e saía para atendê-los.
– Certo, certo. – Gross olhou para mulher com um olhar que eu não saberia definir. – Há quanto tempo a fechadura da cozinha foi trocada? – nesse momento dona Inês pareceu ter ficado um pouco surpresa, e até mesmo confusa com a mudança repentina de assunto.
– Bom… Acho que há umas duas semanas. – respondeu ela olhando diretamente nos olhos de Gross. – Eu quebrei a chave dentro da anterior, pedi ao patrão para descontar a nova do meu pagamento, mas ele se recusou.
– Tudo bem dona Inês, é só por enquanto. Se eu precisar da senhora, eu mando lhe chamar.
A mulher levantou com uma expressão de surpresa, mas também do que me pareceu, alívio. Assim como eu, talvez ela achasse que Gross tinha muito mais perguntas que poderia lhe ter feito. Mesmo assim, sacudindo seu enorme corpo, caminhou para porta da sala.
– Só mais uma coisa dona Inês: – falou Gross como quem se esquecera de algo.
– Pois não?
– Sabe me dizer quanto tempo faz que seus patrões dormem em quartos separados?
Os olhos da velha se abriram enormemente, e suas rugas na testa formaram uma sanfona. A boca se entreabriu com o espanto, mostrando seus amarelos dentes e uma língua esbranquiçada. Mas antes que ela pudesse responder, uma voz veio em seu socorro.
– Esta pergunta, eu acho que deveria guardar para mim.
Todos olharam ao mesmo tempo para a entrada do corredor. Uma figura imponente estava de pé, nos fitando. Um homem de um metro e setenta e cinco, com seus trinta e cinco anos, cabelos negros e lisos, queixo quadrado, lábios finos, olhos ágeis e afundados no crânio. Tinha braços musculosos e peito amplo. Estava com as pernas separadas e bem esticadas. As grandes mãos estavam enterradas nos bolsos da calça de moletom azul marinho, e veias saltadas se estendiam dos pulsos até onde não se podia mais ver, escondendo-se por baixo das mangas da camiseta. Suas sobrancelhas eram espessas e negras como breu. As maçãs do rosto eram elevadas e desafiadoras. O cabelo era curto e bem cortado, e um nariz largo e proeminente encerrava a apresentação de sua figura altiva.
Acho que o doutor Eduardo de Souza Andrade ficou satisfeito com o efeito que sua entrada na sala causou, pois parecia estar se divertindo com nossos olhares de crianças pegas fazendo traquinagens. Seus olhos verdes passaram pelo rosto de Teixeira e pelo meu com um brilho de divertimento. Porém, ao se confrontarem com os acinzentados olhos de Gross, a expressão ao redor dos olhos do promotor perdeu o divertimento após dois segundos. Acertei ao pensar que ele logo tomaria uma atitude defensiva, visto que o olhar de Gross era de reprovação. Mas a maneira defensiva do promotor era tomada de soberba.
– Não me parece certo que o senhor venha à minha casa, e peça à minha empregada informações que não dizem respeito a ela. – disse ele – Ainda mais se eu mesmo posso lhe responder isto.
Gross parecia estuda-lo com cuidado. Olhava agilmente todos os movimentos minúsculos do promotor enquanto este falava. Eu percebia seus olhos mexerem-se milímetros ao mudarem de direção, mas a cabeça um tanto abaixada, não se movia nem um pouco. Meu amigo olhava o homem aparentemente sem emoção, mas eu percebia uma tensão no ar. As sobrancelhas de Gross formavam uma sombra sobre seus olhos, o que os deixava com um aspecto que exigia respeito e cuidado.
Então Gross sorriu. Abanou a cabeça e sentou-se no sofá.
– Dr. Eduardo, – começou ele – o seu tempo deve ser precioso, portanto, devo lhe dizer que o meu, é indispensável. Sendo assim, aconselho o senhor a pular a parte de mostrar quem é que manda, pois quando um caso me é entregue, quem manda sou eu, ou não trabalho no caso. A casa, sem sombra de dúvida é sua, porém, o senhor tem um problema que precisa de solução rápida e discreta. Pois bem, eu sou o homem para o trabalho. Se o senhor não tem envolvimento com o ocorrido, e se não for extremamente necessário envolver outras pessoas, eu resolverei sua questão por um preço que eu julgar justo para mim. Então vamos ser francos a partir de agora quanto a quem precisa de quem por aqui. Se minha franqueza for rude ou demasiadamente petulante demais para o senhor, poupe o meu e o seu tão precioso tempo, me dizendo isto agora, e ficarei feliz em tomar o próximo voo de volta para São Paulo.
Meus olhos, notei, estavam mais abertos do que eu podia controlar. Eu não conseguia mover um músculo, e apenas meu olhar, encarava desconsertado os rostos naquela sala. O delegado Teixeira estava com os braços cruzados e escorado numa parede olhando para o chão. Gross estava sentado, com os braços apoiados nos joelhos, e olhava através da janela com a cortina entreaberta.
De relance olhei para o promotor. Seu olhar naturalmente estava em Gross. Sua expressão denotava uma confusão de ofensa e respeito. De repente seus olhos semicerram-se, e me pareceu que ele escolhia com cuidado suas próximas palavras.
– Me parece – iniciou – que o senhor é exatamente como me disseram que era. – e nesse momento ele sorriu. – Gosta de ter todos os envolvidos em rédea curta. Bom, o senhor está certo, preciso de sua ajuda. Não estou acostumado a ser confrontado dentro da minha própria casa, mas enfim, façamos a seu modo Sr. Gross.
Eu fiquei fascinada com o poder que Gross exercia sobre as pessoas. Ali estava um promotor de justiça, inteiramente à mercê dos critérios de um detetive particular. Era hilário. Divertiu-me muito como meu chefe fazia todos os personagens serem tratados como iguais; independente de sua posição social.
Gross tirou um papel e uma caneta do bolso do sobretudo. Rascunhou algo e entregou ao promotor.
O homem arregalou os olhos esmeralda e abriu a boca, exageradamente em minha opinião. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Gross levantou a mão direita, e com o indicador em riste na direção do promotor disse gravemente:
– Por favor! Já lhe alertei. Sem cenas, dramas ou atuações de ofensa. Este é meu preço. O senhor pode pagar sem arruinar sua vida. Por outro lado, se preferir pechinchar, tudo que conseguirá é me fazer desistir do caso. Com certeza alguém de sua confiança o assumirá, como o delegado aqui. Porém ele sabe que há coisas aqui, que embora ele possa descobrir, levarão para ele um tempo que talvez seja demais para a solução satisfatória do caso. E se ainda o senhor optar por outro serviço particular, neste caso, a conclusão pode ser catastrófica. Fica a seu inteiro critério.
A altivez do promotor desmanchou-se como um castelo de cartas. Não sem antes um olhar de puro ódio, alvejar as costas de Gross, que agora de pé, contemplava a rua pela fresta da cortina. Com uma pesada expiração, o Dr. Eduardo de Souza Andrade então disse:
– Não acho justo encurralar um homem sem opções, mas já que não há remédio, eu aceito. – a voz estava com nítida fúria contida.
Gross virou-se para ele.
– Metade agora, metade quando eu concluir o caso.
– Metade agora? – vociferou o promotor. – Minha mulher acaba de ser assassinada, como ousa?
– Entendendo como uma vida inteira sendo sorrateiro e cínico, como a profissão lhe exige, não lhe permite mudar em minutos, vou ser compreensivo e lhe dizer mais uma vez. Pare de se ofender falsamente, isso não vai funcionar comigo. O senhor não está se debulhando em lágrimas, não está tremendo de nervoso, nem gaguejando, não está sem saber o que fazer com o resto da sua vida, e nem suando frio. Claro que isto não significa que não está sofrendo, mas com certeza significa que é racional o bastante para não deixar a morte de sua esposa lhe cegar um minuto sequer. Além do mais, o assassinato não bloqueou suas contas, nem deu sumiço no seu talão de cheques, então paremos de perder tempo com mediocridades sociais.
O homem era puro ódio agora. Olhava para Gross incrédulo.
– Jesus Cristo! – exclamou ele virando-se para o corredor e desaparecendo em seguida.
Voltou minutos depois com um cheque na mão. Entregou-o a Gross notavelmente contrariado. Pegando o papel na mão, Gross olhou-o conferindo o valor a meu ver, e guardou-o no bolso.
– Satisfeito? – perguntou o promotor com desdém.
– Satisfação é um sentimento experimentado por quem consegue o que quer sem ter previsto quando exatamente, e se aconteceria. Eu apenas encerrei uma questão. Vamos à próxima. Seu depoimento.
Com esta, Gross apontou a mesma poltrona em que a empregada havia se sentado antes, e muito contrafeito, o promotor se sentou.
– Muito bem Dr. Eduardo, me conte o que fez quando chegou a casa ontem, já ciente do que encontraria.
O promotor olhava pela janela. O cotovelo direito apoiado no braço da poltrona, e a mão no queixo.
– Encontrei aquele policial vigiando a porta. – disse apontando para Alex – Me identifiquei e entrei perguntando a ele onde estava o Dr. Teixeira. Ele respondeu que o delegado havia ido à São Paulo, encontrar-se com alguém. Deduzi então que se tratava do senhor, como ele havia me dito. O policial me acompanhou alertando-me para que não tocasse em nada, então olhei de relance para o banheiro. – nesse momento, sua voz falhou e seus olhos lacrimejaram. Eu senti pena dele, e achei que ele não conseguiria continuar. Gross, por outro lado, rodopiou os olhos nas órbitas, em claro sinal de impaciência e incredulidade. Logo o olhar suplicante do promotor se direcionou para Gross, certamente em busca de consternação, e este mesmo olhar pasmou-se, ao se deparar com a carranca impassível do meu chefe o encarando. Nesse momento, eu vi nitidamente a mão esquerda do Dr. Eduardo apertar o braço da poltrona, o que obviamente era um sinal de que ele não gostou de ver que seus sentimentos não surtiram o menor efeito em meu chefe. E não pude deixar de notar também, que Gross flagrou como eu esse destempero. Já aparentemente refeito, o promotor prosseguiu.
– Quando me deparei com a cena do próximo cômodo, disse ao policial que me recolheria no outro quarto se não houvesse problema, e aguardaria então a volta do delegado. E foi o que fiz até agora.
Gross estava de pé, ao lado de um sofá. As mãos enfiadas nos bolsos da calça e o olhar preso no promotor.
– Acho que agora – disse ele – é o momento em que o senhor pode nos explicar as situações delicadas que envolvem a divulgação do fato.
Um misto de pesar e apreensão tomou conta da expressão do Dr. Eduardo. Ele se levantou e cerrou a cortina com ambas as mãos. Olhou para Gross desgostoso e voltou a sentar-se. Encarou a todos rapidamente e respirou fundo. Nesse momento eu senti aquele clima de quando um segredo perigoso está prestes a ser revelado. Fiquei muito tensa, afinal, tudo isso era novo para mim. Eu estava tendo toda a aventura que eu queria, no entanto, minha pulsação demonstrava que tudo estava acontecendo mais rápido do que eu conseguia absorver.
– O
senhor pode pular a parte da candidatura do ano que vem. – disse Gross.
O
promotor o olhou muito surpreso, mas Gross logo explicara-se.
–
Panfletos, documentos partidários, pilhas deles. – disse apontando para a
estante. – Pedido de segredo quanto a
divulgação do assassinato...preciso continuar?
– Sua
perspicácia é ímpar Sr. Gross. De fato, é o homem certo para o caso. – disse o
promotor num tom que me pareceu contrariado.
–
Precisamente! – exclamou depois de breve intervalo – Há implicações políticas
importantíssimas aqui. Estou a ponto de lançar minha pré–candidatura ao senado
para o ano que vem. O partido acredita piamente que serei eleito, investiu
muito dinheiro e tempo em mim. Logo, este fatídico acontecimento, se veiculado
da maneira correta pode até mesmo ser... proveitoso.
Eu espantei-me
sobremaneira. Se houvesse qualquer tipo de condescendência de minha parte para
com aquele homem, ela teria acabado naquele momento.
Senti
repulsa, asco dele naquele momento. Como era possível que ele quisesse usar a
morte da esposa para conseguir vantagem política?
Mas
ficou provado que Gross não se surpreendeu, dado o que disse em seguida.
– Ah...
agora sim! Este é o verdadeiro Dr. promotor Eduardo de Souza Andrade. Prático,
pragmático e calculista.
Desta
vez o promotor não se ofendeu falsamente. Na verdade nem mesmo mudou sua
expressão. Simplesmente continuou:
O que
preciso que faça é que descubra quem matou minha esposa o mais rápido possível,
que faça isso em sigilo e me comunique sua conclusão tão logo a tenha.
– O
senhor compreende que estará sob meu julgamento e também do delegado aqui, a
decisão de tornar público o caso dependendo dos acontecimentos que culminaram
no fato?
– Sim,
compreendo.
– Pois
muito bem! Se por acaso precisar de alguma informação, volto a lhe procurar. –
encerrou Gross
–
Espere! – disse o Promotor – Não está se esquecendo de perguntar nada?
Ele com
certeza se referia a pergunta direcionada a empregada.
– Não. –
respondeu Gross secamente. – Aquela pergunta foi apenas um subterfúgio mental.
Era uma retórica.
E com
essa Gross virou nos calcanhares e saiu pela porta da sala.
– Onde
vai? – perguntou Teixeira, que seguido por mim alcançava Gross a caminho do
portão.
–
Buscar o último depoimento.
Nesse
momento tanto Teixeira quanto eu ficamos confusos.
– Como
assim? Do que está falando?
Gross
virou a cabeça para trás com um sorriso maroto na face e não respondeu,
seguindo adiante.
Saiu
pelo portão principal da propriedade e seguiu atravessando a rua, se dirigindo
à casa em frente.
O
delegado e eu entreolhamo-nos com cara de dúvida e surpresa, porém, não
interferimos verbalmente. Ficamos parados ainda do lado de dentro da
propriedade, apenas observando.
Gross
bateu à porta e aguardou alguns segundos.
Um
homem baixo e calvo atendeu à porta.
Narrarei
agora os fatos da maneira que meu chefe os passou a mim, quando o interpelei
mais tarde.
– Pois
não?
–Boa
tarde, meu nome é Willian Gross, sou corretor imobiliário e estou avaliando a
casa em frente. Se possível gostaria de lhe fazer algumas perguntas acerca da
vizinhança, dos serviços públicos, comércio etc. Será que o senhor poderia me
ajudar?
– Mas é
claro! Entre por favor.
O homem
calvo guiou Gross até uma ampla sala – não darei detalhes da decoração, estilo
dos móveis e etc., pois Gross não reparava nestas coisas quando não eram
essenciais.
Após
sentar-se, Gross iniciou uma conversa leve, querendo saber se a vizinhança era
tranquila, se os serviços públicos funcionavam bem, essas coisas triviais.
Não
demorou muito, a mulher do homem calvo adentrou à sala. Uma mulher relativamente
jovem para sua idade, cerca de quarenta e oito, cinquenta anos. Vestia um
vestido florido que lhe descia até os joelhos. Era morena na pele e tinha os
cabelos negros e cacheados. “Uma bela mulher” havia citado Gross em sua
narrativa.
– Boa
tarde! – disse ela ao entrar na sala e deparar-se com um visitante inesperado.
– Boa
tarde senhora. – Gross apertou-lhe a mão firmemente, mas gentil.
Voltou
a se sentar após o calvo explicar o motivo da visita à sua mulher.
– Oh,
isso? Este bairro, posso lhe assegurar, é maravilhoso! Nunca morei em lugar
melhor! Tranquilo dia e noite, poucos vizinhos, serviços de qualidade, boa
localização, bastante comércio e indústrias próximas...
Gross
ficara satisfeito, me confidenciou, com a facilidade que teve em obter informações
daquela mulher. Ela falava com prazer e não era necessário pressionar.
– Vocês
têm filhos? – quis saber o detetive – Gostaria de saber como é para as crianças
daqui.
– Sim
temos dois. – respondeu o calvo.
– Dois
lindos rapazes! – inteirou a mulata. – André e Alberto. Alberto acaba de passar
no vestibular para engenharia civil. Estamos muito orgulhosos! – os olhos dela
brilhavam intensamente.
–
Imagino... deve ser um grande orgulho para vocês.
– De
fato é. – dizia o calvo.
– E o
outro? André, não? É mais novo ou mais velho?
– Ah,
mais novo. Aborrecente, se é que me entende. – disse a mulata, um tanto
risonha, um tanto aborrecida.
– É uma
idade difícil mesmo.
Neste
instante, André desceu a escada que dava no centro da sala, com cara de poucos
amigos. Certamente ouvira sua mãe dizer a estranhos o que achava dele.
Virou-se
em direção à cozinha. O pai o interrompeu.
–
Educação?
– Boa
tarde. – disse o garoto com olhar raivoso e voz distorcida.
– Boa
tarde. – respondeu Gross em tom paternal.
O
garoto desapareceu de vista na cozinha.
– Ah,
se o senhor soubesse como é difícil hoje em dia manter um adolescente na
linha... – falava a mãe mais para si mesma do que para o visitante.
–
Sônia... – interrompeu o marido seus devaneios, chamando-a de volta à razão.
– Me
perdoe, – desculpou-se ela – eu tenho o péssimo hábito de me lamuriar a todo o
tempo.
– Não
tem problema. De fato deve ser complicado mesmo. Hoje em dia, e com tanta
tecnologia em volta, as coisas vão mais rápido do que somos capazes de
acompanhar.
– O
senhor está corretíssimo! É exatamente o que penso. Toda essa tecnologia, esses
aparelhos, essa velocidade na troca de informações; isso só faz com que nos
distanciemos dos nossos filhos por não sermos digitalizados.
O calvo
parecia entediado com a conversa. Gross atento, tratou de puxa-lo de volta com
da maneira que lhe parecia interessante na leitura que fez daquele lar.
– No
que o senhor trabalha?
Gross
me relatava isto sem disfarçar como se divertia quando sabia exatamente como
conduzir uma conversa inflando os egos, a maneira mais fácil de ganhar
confiança. Mas ele era sorrateiro, não fazia elogios rasgados, tão típico dos
puxa-sacos.
– Sou
dono de uma empreiteira. Carlos e cia, o senhor deve conhecer...
– Mas é
claro! Construiu a majestosa ponte Vila velha, no litoral gaúcho.
–
Sim,sim... bela obra! – orgulhava-se o calvo absorvendo com prazer o elogio.
Então
Alberto seguirá os passos do pai...?
–
Naturalmente – agora o homem tinha um tom de surpresa arrogante. – Desde
pequeno, quando o via empilhar cubos, eu sabia que iria para meu ramo.
A mãe
não parecia ter tanta firmeza nesta frase visionária. Gross não perdia um
detalhe das reações de ambos.
– Bom,
mas então, o que podem me dizer sobre os hospitais, escolas, faculdades...
Por
vários minutos, marido e mulher esmiuçaram o bairro e boa parte da cidade em
volta para Gross, que ouvia com atenção e paciência.
Depois
de vários minutos e alguns cafés, Gross fez mais uma investida direta.
– Não
quero ser indiscreto, mas já trabalhei no conselho tutelar em São Paulo há
alguns anos, durante um ano e meio. Eu era auxiliar do psicólogo que
entrevistava as crianças; posso dizer que aprendi muito e ficaria feliz se
pudesse dar uma palavrinha com André a sós por alguns minutos. Quem sabe se a
rebeldia dele não advém de algo muito simples e fácil de resolver?
O
casal, após quase duas horas que haviam se passado, já consideravam Gross como
um amigo. Esse era um dom que ele tinha, o de gerar confiança quase
instantânea.
– Mas é
claro! Qualquer juízo que consiga colocar naquela cabeça dura será muito
bem-vindo!
– Fique
à vontade senhor Gross, eu tenho certeza que há algo de errado, mas ele não se
abre conosco; quem sabe com um estranho. – disse a mãe condescendente.
O detetive
então tomou o caminho da cozinha, mas André não estava mais lá. Já se
encontrava do lado de fora da grande porta de vidro da cozinha que dava para o
jardim nos fundos da propriedade.
Gross
foi até ele, as mãos nos bolsos, o andar despreocupado e lento olhado tudo em
volta. O garoto estava sentado num banco de madeira feito do tronco de uma
grande árvore, e com um smartphone nas mãos, teclava habilmente.
– Como
você consegue? Eu sempre erro as letras, talvez por a ponta dos meus dedos
serem muito grossas, não sei.
O
garoto não era bobo, e não seria com esse papinho mole que Gross ganharia sua
atenção. Deu de ombros.
Gross
sacou o seu smartphone último tipo do bolso e começou a teclar algo.
O
garoto virou a cabeça por um instante e quando voltava a cabeça para seu
aparelho, como num susto voltou a olhar para as mãos do meu chefe.
–
Caralho! Esse é um X-65s ultimate?
Seus
olhos cintilavam à luz do sol.
– É
sim. – disse Gross desinteressado e sem mover os olhos.
– Cara!
Esse é definitivamente a maior criação tecnológica da década! Eu posso ver? – a
mão estendida do garoto já estava a meio metro.
O
detetive desvencilhou-se do suplicante membro com destreza e graça.
– É
realmente um aparelhinho formidável! Mas pensei que você não estivesse
interessado em conversar comigo.
– Ah!
Qual é cara? Eu pensei que você fosse só mais um desses chatos e estúpidos que
tentam puxar papo comigo por algum motivo banal pra tentar fazer eu me sentir
melhor dizendo que vai ficar tudo bem. Se quer saber meus pais já trouxeram psicólogos
aqui disfarçados dos mais variados tipos pra conversar comigo. Quer saber? Não
tem nada de errado com a minha cabeça, se tem algo de errado, é com quem me
cerca. Pessoas tolas e superficiais que são incapazes de ver um palmo além do
próprio nariz.
–
Hum... – fez Gross pensativo. – Bom, eu não sou psicólogo, na verdade já fui
assistente de um. Mas queria falar com você por outro motivo.
– Qual?
– dizia o garoto com os olhos seguindo o telefone a medida que Gross
gesticulava.
Você
parece ser o tipo de garoto inteligente acima da média, que lê bastante,
absorve muita informação mas não tem com quem partilhar e discutir os pontos
que julga importantes.
Agora o
garoto ficou com ar desconfiado.
– Você
é algum tipo de vidente? Desta vez meus pais se superaram.
– Não
sou vidente coisa nenhuma, não seja ridículo. – o tom de Gross foi enérgico e
ofensivo.
Os
ombros do menino encolheram levemente.
– Você
nem mesmo acredita nessas bobagens de leitores de mentes se é realmente o tipo
de pessoa que eu acho que é.
– Você
está certo. – disse o menino – eu não acredito nisso. Quem é você então e o que
quer de mim?
Numa
cartada arriscada, Gross lançou mão de sua última carta... sinceridade.
– Sabe
guardar segredos? – perguntou seriamente olhando dentro dos olhos do garoto.
–
Guardo tantos que nem consigo contar, e além disso, se contasse a alguém, com
certeza seria tomado como mais uma de minhas “fantasias”.
– Pois
bem, eu vou lhe dizer tudo então. Eu não sou um corretor de imóveis, usei isto
como pretexto pra conseguir falar com você.
O
garoto ouvia com atenção sem interromper.
– Sou
um detetive particular. Houve um arrombamento na casa em frente na noite passada,
e bem, eu sei que você viu algo e preciso saber o que foi.
André
que estava com os olhos arregalados, muito assustado, emudeceu por alguns
segundos.
– Como
você sabe? É impossível!
– Isso
não importa. Você acaba de confirmar que viu algo. Preciso que me ajude com
isso. O dono da casa é um figurão que preciso impressionar. E para mostrar
boa-fé, que tal você ganhar esse X-65s ultimate?
Agora
André quase chorava, tamanha a quantidade de lacrimação em seus olhos
brilhantes.
– Cara,
eu mataria pra ter um dessses...
As mãos
novamente tentando tocar o aparelho.
–
Calma, primeiro duas coisas: A informação e sua palavra de que não vai contar a
ninguém o que realmente conversamos.
–
Palavra de escoteiro, juro por Deus, de mindinho, o que você quiser!
– Okay,
okay! Agora me diga... o que você viu
Nesse
ponto da narrativa Gross disse que seria tudo que me contaria no momento.